02 out Quem foi que pediu a sua opinião?
Vivemos em uma era de comunicação sem precedentes. Nunca antes na história tivemos tantas vozes, tantas opiniões sendo emitidas, compartilhadas e debatidas a cada segundo. Hoje, com apenas alguns cliques, qualquer pessoa pode expressar suas ideias e opiniões para um público global, em uma suposta celebração da democracia e da liberdade de expressão. Mas, na verdade, estamos presos em uma armadilha, porque, poucas são as opiniões que realmente fazem sentido. A maioria delas é apenas eco, repetição de algo que se ouviu ou leu por aí, sem reflexão, sem crítica, sem substância. O mal do século se chama “minha opinião”.
O que deveria ser um terreno fértil para a diversidade de pensamentos parece, cada vez mais, tornar-se uma paisagem de repetição, superficialidade, desinformação e falta de criatividade. Em vez de fomentar o debate, o pensamento crítico e as novas ideias, as redes sociais e seus algoritmos frequentemente criam bolhas de confirmação, onde somos expostos apenas àquilo que já conhecemos e com o que concordamos.
A verdade é que quase ninguém aprendeu a pensar com a própria cabeça. Isso porque pensar dá trabalho. É mais fácil adotar a opinião de um influenciador, de um político, de um jornalista, do que questionar, refletir e, quem sabe, até mesmo mudar de ideia.
O estudo “Exposure to ideologically diverse news and opinion on Facebook” (Bakshy et al., 2015), investigou como as redes sociais influenciam a formação de opinião. Ele mostrou que a exposição a opiniões diversificadas nas redes é limitada por escolhas individuais e algoritmos, o que confirma o argumento de que esse mecanismo mantêm as pessoas em bolhas que impedem a exposição a novas ideias.
Normal em Curitiba
Não sei se hoje ainda é assim, mas há muitos anos, as empresas, antes de colocar um produto no mercado nacional, lançavam-no primeiro na cidade de Curitiba, alegando oficialmente que os consumidores locais eram os brasileiros mais exigentes e com as opiniões mais críticas sobre tudo. Mas nos bastidores, o que todo mundo dizia é que os curitibanos eram os mais chatos do Brasil. Se na opinião deles um produto fosse bom, a chance de o resto dos brasileiros aprovarem também era bem grande. Não sou eu que estou dizendo. É o que todo mundo dizia. Menos os curitibanos, claro.
Antigamente, o trabalho criativo funcionava na base da tentativa e erro. Não havia garantias. Um artista, um escritor ou um inventor apresentavam suas ideias ao mundo sem saber qual seria a reação do público. E, muitas vezes, era justamente esse risco, essa exposição ao fracasso, que levava à inovação. A maioria das obras criativas era julgada na rua, pelo público, sem pesquisas de mercado, sem filtros. A arte, a criatividade e a inovação eram julgadas por aquilo que realmente eram: tentativas genuínas de trazer algo novo.
Casos de família
Eu mesmo tive uma experiência valorosa com relação a isso. Há muitos anos eu escrevia textos de humor quase que profissionalmente. Um dia, me dei conta de que não estava explorando o máximo de minha capacidade cômica porque lá no fundo eu ficava preocupado com a opinião, não do público, mas dos meus filhos e da minha mãe. Bem, considerando que mãe é aquela entidade sagrada que aceita tudo o filho faz, e que a partir de uma certa idade, a opinião dos filhos sobre os pais é terrível, então, o que é que eu tinha a perder?
A partir daí decretei para mim mesmo que eles deveriam entender que aquele era o meu trabalho de humor, não necessariamente um compêndio de minhas crenças pessoais. Eu escrevia o que tinha o potencial de ser engraçado e não o que eu acreditava. E senti de fato uma melhora no trabalho. E no final das contas nem meus filhos nem minha mãe reclamaram. Eles entenderam que criatividade não é questão de agradar. É de surpreender. Mas surpreender positivamente, o que nem sempre se consegue. Mas esta é a vida do criativo.
Quem sabe, sabe
Assim como eu precisei aprender a me desapegar das opiniões familiares para ser mais autêntico no meu trabalho, o mercado criativo atual enfrenta uma batalha semelhante. No entanto, o problema agora é bem maior: não se trata mais apenas da crítica de um círculo próximo, mas de agradar a uma multidão invisível, alimentada por algoritmos e métricas de engajamento. Em vez de se arriscar, inovar e surpreender, muitas empresas e criadores de conteúdo estão presos ao medo de desagradar ou sair do que já é conhecido.
Polêmicos ou certeiros?
Steve Jobs disse uma vez: “As pessoas não sabem o que elas querem até que a gente mostre para elas”. E é verdade. Se você não é criativo e não é responsável pelas ideias de alguma empresa, o que você deseja serve apenas como referência, não como lei. Henry Ford dizia algo semelhante: se ele perguntasse aos clientes o que eles queriam, a resposta seria carroças mais rápidas. Com os mesmos argumentos mas um pouco menos de diplomacia, Noel Gallagher da banda Oasis aparece em um vídeo divertido onde diz que 99% dos consumidores é idiota.
Quando assisti a este vídeo, me lembrei imediatamente do jornalista Nelson Rodrigues, que dizia “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”. Já essa frase me fez lembrar do escritor Umberto Eco, que foi mais longe: “As redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho e não causavam nenhum mal para a coletividade. Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”. Lembrei também da famosa frase de Juan Carlos I, Rey de España: “¿Por qué no te callas?”.
Antes, o idiota tinha medo de dar sua opinião, exatamente pelas razões apresentadas por Eco, mas hoje, com a internet, ele encontrou seus pares, seus parças em ideias (ou na falta absoluta delas). Ignorantes orgulhosos que não temem a vergonha ou o ridículo. Ele pensa: “se tem gente que pensa como eu, então, obviamente, estou certo”. O que ele não percebe, por ser idiota, claro, é que sempre tem algum outro pateta que pensa como a gente.
A ascensão da opinião é a abolição da vergonha
Sim, a internet acordou este monstro. Todo mundo tem opinião e, muitas vezes, essas opiniões têm mais credibilidade do que os fatos. As redes sociais se tornaram um palco onde todos querem ser ouvidos, mas poucos querem realmente ouvir. O problema é que a maioria das pessoas não sabe verdadeiramente o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é ruim. E, ao invés de admitir isso, preferem disfarçar a ignorância com opiniões vazias. Isso cria um moto perpetuo onde todos falam, mas ninguém ouve.
Trend is a bitch
Nesse cenário, a inovação está sendo esganada pelo pescoço. O surgimento de mais grandes criadores, artistas ou empreendedores revolucionários está seriamente comprometido. A disrupção está em vias de ser abolida. Os algoritmos (eles de novo) são os grandes culpados. Alimentam as pessoas com aquilo que elas já gostam, afogando-as em sua própria dopamina e retirando qualquer espaço para novos ares, novos pensamentos, novas ideias. Vivemos em um beco frio e escuro onde nada novo pode florescer. Todo mundo sabe que para ser favorecido pelo Deus algoritmo, precisa pedir, implorar para que as pessoas dêem likes e também a sua opinião. Mas, na verdade, elas estão se lixando pra sua opinião. E com razão.
Os influenciadores de hoje, na maioria das vezes, não têm um décimo do conhecimento de cidadãos regulares do passado. Ainda assim, têm opinião. E a opinião deles forma outras, que formam outras e outras mais, criando um efeito dominó sem fim até que tudo caia e se transforme em um grande nada – um verdadeiro Rorschach da mediocridade.
O estudo “Online Influence? Social Media Use, Opinion Leadership, and Political Persuasion” (Weeks et al., 2015) focou na influência de líderes de opinião nas redes sociais, demonstrando que usuários altamente ativos nas redes se percebem como influenciadores e tentam persuadir os outros, mesmo que não tenham necessariamente mais conhecimento ou informações mais precisas. Isso corrobora o papel superficial dos influenciadores digitais.
É melhor ser aceito do que estar certo
Nós, humanos, temos uma necessidade intrínseca de sermos aceitos pelo grupo. O pensamento de grupo nos traz conforto, segurança. E a internet, com sua capacidade de conectar milhões de pessoas em segundos, amplificou esse comportamento. Nesse cenário, a inovação intelectual e a originalidade são sufocadas, substituídas por ideias que confortam, mas raramente desafiam. Adotar o pensamento de muitos diminui o risco de sermos metralhados em praça pública.
Cuide do SEO que eu cuido do meu
Outro vilão dessa história é o Search Engine Optimization (Otimização para Mecanismos de Busca). SEO, para os íntimos. Este déspota muito pouco esclarecido rege como as pessoas devem escrever na internet. Não com base no que realmente pensam ou na profundidade de suas ideias, mas no que vai agradar ao algoritmo do Google. Um mecanismo, que inicialmente prometia democratizar o acesso à informação, hoje está contribuindo para a criação textos que vão da casa do chapeuzinho vermelho até a casa da vovó sem passar pelo lobo. O resultado? Textos cada vez mais rasos, recheados de palavras-chave estrategicamente posicionadas, mas desprovidos de alma.
Para ser encontrado nas primeiras páginas de busca, os criadores de conteúdo são praticamente forçados a seguir uma lógica engessada, onde o objetivo não é instigar a reflexão ou oferecer algo novo, mas sim encaixar palavras-chave estratégicas, frases curtas e fórmulas pré-definidas que aumentem a chance de rankear. O pensamento criativo, que deveria estar na linha de frente da produção de conteúdo, é jogado para escanteio, e o que resta são textos que se parecem uns com os outros, feitos sob medida para agradar, mas raramente para desafiar ou surpreender. O curioso é que como eu não estou nem aí para o SEO, provavelmente quase ninguém vai ler este artigo. Podemos dizer então que você é uma pessoa privilegiada. Ou talvez seja melhor não dizer nada.
Porém, preciso confessar uma coisa, não sem um leve corar de vergonha: sim, eu tenho um plugin no meu site que me orienta sobre o SEO. Mas garanto que minha dignidade permanece intacta. Em minha defesa, digo que não faço tudo o que ele manda. Apenas as modificações que não violentam meu texto e minha opinião. O SEO não me usa. Eu uso o SEO. A propósito, este artigo está classificado como 75/100. Yes!
Programas de internet, rádio e TV também tem seu papel nesta ópera-bufa, pedindo sempre a opinião das pessoas sobre os mais variados assuntos. Não! Isso é errado! Como eu já disse, ninguém quer saber sua opinião. Querem engajamento. Engajamento é igual a influência. E influência, muitas vezes é igual a dinheiro. Repito: sua opinião não vale nada. O mundo hoje gira em torno das opiniões que ninguém está interessado em saber, em um interminável círculo horroroso. Opinião, hoje, não é medida pelo conteúdo, mas pela quantidade.
Politicamente discutível
E o politicamente correto, ah, o politicamente correto, essa aberração da sociedade moderna, que muitos chamam de pensamento woke. Um movimento que se alimenta do absurdo. É o uso da opinião como arma, como ferramenta de intimidação e coerção. Quantos poderosos já não vimos se ajoelharem e pedirem perdão por opiniões que ousaram ir contra o que é certo, inquestionavelmente certo? Quanta gente hoje tem demonstrado não ter colhões para segurar a onda e manter sua opinião intacta, a despeito das ameaças de cancelamento? Hoje temos medo. Medo de incomodar. Medo de sermos apagados do mapa. É claro que a maioria destas opiniões são mesmo esdrúxulas, mas onde está a hombridade destas pessoas? Onde está o orgulho próprio?
Não, não estou reclamando do politicamente correto como conceito. Como ideia é excelente. Uma espécie de escudo contra a ignorância, um tipo de STF, a última instância do pensamento reflexivo em defesa do avanço civilizatório da sociedade. Um movimento que em tese deveria apenas servir como anteparo aos idiotas, só aos idiotas e não a quem tem opiniões diferentes ao senso comum. Boas ou más. O que deveria ser um espaço democrático para se expressar, se transformou paradoxalmente em um órgão de censura extraoficial, uma Santa Inquisição que muitas vezes chega a exigir até a pena de morte.
O movimento não consegue diferenciar a opinião de um idiota de uma opinião de alguém que tem de fato uma opinião. Os idiotas são aqueles que sem capacidade de refletir ou avaliar uma situação com o mínimo de conhecimento, falam, escrevem ou gravam suas opiniões demonstrando seu vergonhoso despreparo. E neste grupo seleto incluo também os idiotas que defendem ideias claramente antidemocráticas, nocivas ao tecido social e carentes de qualquer lógica civilizatória. Estes também merecem o julgamento implacável da justiça paralela do politicamente correto. Mas não é assim que a banda anda tocando ultimamente.
Hoje, este movimento pode ser comparado às milícias, que começaram com o nobre objetivo de livrar uma região de criminosos, para depois, subvertendo sua causa prima, tomar o lugar destes criminosos, ou seja, nasceu como um mecanismo para proteger grupos vulneráveis e garantir que o discurso público não perpetuasse preconceitos e discriminação mas acabou como uma confraria de diletantes que critica indiscriminadamente, sem – engraçado – refletir sobre o que está criticando.
O estudo “Monitoring the Opinion of the Crowd: Psychological Mechanisms Underlying Public Opinion Perceptions on Social Media” (Neubaum & Krämer, 2017), constatou como as pessoas ajustam suas percepções sobre a opinião pública com base em comentários gerados por usuários nas redes sociais. O medo da exclusão social incentiva os usuários a monitorarem as opiniões de outros e ajustarem suas próprias opiniões de acordo, corroborando a ideia de que o comportamento de grupo nas redes pode levar à repetição de ideias sem reflexão crítica.
Sociedade esquizofrênica
Mas não sejamos tão rigorosos com a internet. O marketing já vinha fazendo o papel de dar voz e autoridade aos idiotas muito antes do surgimento do mundo digital, alimentando o que eu chamo de esquizofrenia social. Por um lado, o pensamento civilizatório e a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que todos são iguais, uma coisa boa a se pensar, para se sentir importante e respeitado, certo?
Porém, o marketing, por se basear sempre nos sentimentos mais reprováveis do ser humano como inveja e cobiça, trata de afirmar insistentemente que você é especial, que é mais e melhor que os outros se fumar um cigarro com a embalagem dourada. Mas como a física explica, ninguém pode ser igual aos outros ao mesmo tempo que é especial. E esta contradição na cabeça de tem não tem cabeça, pode acabar gerando o fenômeno da importância injustificada, quando na posição de cliente ele engrossa a voz, bate o pé com firmeza e mostra com orgulho indisfarçável a carteirinha do consumidor moderno onde está escrito “Tô pagando!”.
Pensar dói
Espírito crítico é uma coisa que precisa ser aprendida, alimentada e mantida para que tenha algum valor. Dói pensar diferente. Dói pensar na direção contrária do senso comum. Dói ser salmão. E a maioria das pessoas não está interessada em passar pela jornada do herói, enfrentando obstáculos imensos e monstros terríveis. Pra quê? Eu dou uma passada no Instagram, outra no tiktok e no X e já fico sabendo de tudo.
Em um mundo cada vez mais dominado por opiniões superficiais e alimentado por algoritmos que promovem o conformismo, é fundamental recuperar a capacidade de pensar criticamente. A inovação e o pensamento original não apenas exigem coragem, mas também um ambiente que valorize o confronto de ideias. Do contrário, estaremos apenas investindo na criação extensiva de papagaios de pirata.
“Impact of social media use on critical thinking ability of university students” (Cheng et al., 2022) é um estudo que se debruçou sobre a relação entre o uso das redes sociais e a habilidade de pensamento crítico dos estudantes universitários, revelando que o uso equilibrado das redes pode estimular o pensamento crítico, enquanto a dependência excessiva afeta negativamente essa habilidade, reforçando o argumento de que a sobrecarga de informações não refletidas nas redes sociais pode sufocar o pensamento crítico.
Pensar criticamente, afinal, é mais do que apenas duvidar ou discordar. É o exercício de questionar, analisar, investigar e estar disposto a mudar de opinião diante de novos fatos e argumentos. Desenvolver essa habilidade requer prática e, principalmente, um ambiente que promova o debate saudável e a troca de ideias. Além disso, a exposição a diferentes perspectivas, como discutido no estudo de Bakshy et al. (2015), é essencial para escapar das bolhas de confirmação e fomentar uma visão mais ampla e equilibrada do mundo.
Cogito, ergo sum
Valorizar a própria opinião também tem a ver com o ego, com a necessidade de encontrar valor em si mesmo. Queremos nos mostrar conhecedores, queremos ser vistos, admirados, amados. E, para isso, emitimos opiniões, muitas vezes sem nem saber do que estamos falando. A opinião se tornou uma moeda social, onde, quanto mais se tem, mais se é valorizado. Mas, no final das contas o esporte predileto das pessoas é julgar. E dar opinião nada mais é do que julgar. Ao darmos uma opinião estamos apenas dando vazão à nossa necessidade de nos sentirmos especiais, acima do bem e do mal, melhores que os outros.
O interessante é saber que você que está lendo este artigo, provavelmente está achando que estou falando de outras pessoas. Mas existe uma imensa possibilidade de eu estar falando de você. Ou de mim mesmo. Tanto faz.
Não me julgue
Embora seja fácil criticar a proliferação de opiniões nas redes sociais, não se pode ignorar o fato de que, em muitos aspectos, essas plataformas democratizaram a expressão individual. Pessoas que historicamente não tinham espaço para serem ouvidas agora encontram nas redes um palco para compartilhar suas ideias e experiências. Esse fenômeno deu voz a comunidades marginalizadas e a movimentos sociais que transformaram realidades, como o #MeToo e o #BlackLivesMatter. Ao mesmo tempo que critico a superficialidade das opiniões, é importante reconhecer que, para muitos, essa liberdade de expressão nas redes representa uma conquista democrática e não apenas um retrocesso.
No livro “Affective Publics: Sentiment, Technology, and Politics. Oxford University Press”, Papacharissi, Z. (2015), Zizi explora como as redes sociais permitem que diferentes vozes se expressem, criando o que ela chama de “públicos afetivos” — grupos de indivíduos conectados por sentimentos compartilhados em vez de debates racionais e informados. A autora sugere que, embora as redes sociais democratizem o espaço para expressão, elas também amplificam o ruído e a superficialidade, promovendo reações emocionais em detrimento do pensamento crítico.
O problema não está na democratização da voz, mas na ausência de reflexão crítica. Para muitos, expressar uma opinião se tornou um exercício mecânico, sem uma verdadeira análise dos fatos. A facilidade de emitir julgamentos nas redes sociais transformou a opinião em moeda de troca, muitas vezes impulsionada mais pela necessidade de aceitação social do que pela busca pela verdade. Se conseguirmos retomar o hábito de pensar 7 minutos antes de falar — e valorizar as opiniões que realmente trazem algo novo para o debate — talvez possamos recuperar o potencial transformador da comunicação. Me chamem de sonhador, mas é isso que eu penso.
Por isso, talvez seja o momento de começarmos a classificar a opinião das pessoas, como se faz com produtos e serviços na internet. Dependendo de quantas estrelas alguém possua, essa pessoa poderia ou não estar autorizada a dar sua opinião nas redes sociais. Assim, pelo menos, talvez consigamos filtrar um pouco do ruído e dar mais espaço para ideias verdadeiramente inovadoras. Pelo menos essa é minha opinião. O que você acha?
Referências
- Arendt, H. (1998). The Human Condition. University of Chicago Press.
- Bakshy, E., Messing, S., & Adamic, L. A. (2015). Exposure to ideologically diverse news and opinion on Facebook. Science, 348(6239), 1130-1132. https://doi.org/10.1126/science.aaa1160
- Bourdieu, P. (1984). Distinction: A Social Critique of the Judgement of Taste. Harvard University Press.
- Cheng, L., Fang, G., Zhang, X., Lv, Y., & Liu, L. (2022). Impact of social media use on critical thinking ability of university students. Library Hi Tech. https://doi.org/10.1108/lht-11-2021-0393
- Neubaum, G., & Krämer, N. (2017). Monitoring the opinion of the crowd: Psychological mechanisms underlying public opinion perceptions on social media. Media Psychology, 20(3), 502-531. https://doi.org/10.1080/15213269.2016.1211539
- Papacharissi, Z. (2015). Affective Publics: Sentiment, Technology, and Politics. Oxford University Press.
- Weeks, B. E., Ardèvol-Abreu, A., & Gil de Zúñiga, H. (2015). Online influence? Social media use, opinion leadership, and political persuasion. International Journal of Public Opinion Research, 29(2), 214-239. https://doi.org/10.1093/ijpor/edv050